*Iria a leva até uma boate, que está fechada dado o horário vespertino. Ainda assim, ao bater na porta, e após um par de olhos claros aparecer por uma portinhola e ver de quem se trata, a porta abre. Há cinco pessoas ali, apenas uma delas um homem, o par de olhos claros. Eles cumprimentam Iria com bastante familiaridade, mas ainda algum respeito, reconhecendo-a acima deles na hierarquia. Passam, então, a secar Anie. É Iria quem fala.*

-Essa é Anie, pessoal, ela é a mais nova de vocês.

*Aneles pode ver que são todos sátiros, todos incrivelmente belos e atraentes, ainda mais que suas formas mortais.*

A principio fico tímida com a presença dos desconhecidos. Nunca havia conhecido mais do meu povo, foram tantos anos não tentando enxergar a mágica que poucas vezes realmente me deixei levar pelo que via. E agora estava adiante daqueles da mesma raça que eu e as palavras me faltavam a boca.

- Oi a todos, Me chamo Aneles, mas Iria me chama de Anie, podem me chamar assim também!

Me sinto ruborizar por aquela estranheza de timidez tão incomum em mim.

*Eles sorriem e respondem em coro*

-Oi,Anie!

*E então começam a se apresentar.*

-Sou Augustofane, prazer.
-Meu nome é Mayene. Encantada.
-Aprilocrate.
-Philioteles, mas pode me chamar de Phil, meu Deus, como você é gos... Linda!
-TeeHee. Controle-se, Phil. Prazer, meu nome é Junioceles. June.

Fico um tanto corada com a apresentação deles, não estava acostumada a tanta atenção e não tinha muitos amigos nem na escola e nem na vizinhança de casa.

Minha primeira amiga e romance havia sido Iria e por enquanto ela era a unica pessoa na minha vida que compartilhada as duas realidades.

- Tudo bem com vocês? - Perguntar isso era melhor que perguntar, oi, vocês vem sempre aqui, será que hoje chove?

Sorrio encabulada. Apesar de morena, me sinto corar.

- Bom, meu pai dá aula em uma faculdade do estado e... enfim, na verdade estou aqui por ela.

Então encaro Iria por uns instantes, uma breve olhadela fatal.

*É Mayene quem fala.*

-Ah, o amor... Mas você já falou com ela, milady?

*A Sidhe enrubesce. Notando aquilo como negativa, Mayene continua.*

-Parece que não... Ela é uma nobre, minha cara, e, portanto, só pode amar outro nobre...

Olho para ela sem entender o que diabos ela quis dizer com aquilo. E se fosse o que eu havia entendido, qual o propósito.

Eu sabia que existiam regras e outras baboseiras do tipo, mas o que eu sabia era ela Íria quem tinha me dito na nossa escola. Desde sempre eu havia procurado ignorar tudo, por conta dos conselhos do meu pai e nunca havia me aproximado de mais ninguém que participasse das "ilusões" que eu via. Mas foi ela quem me trouxe até ali, tudo foi por causa dela, do meu primeiro amor e eu vejo uma tempestade se formando, aquilo não era um aviso, aquela estranha tinha me dado certeza e a cara dela tinha me respondido o resto.

Nesse momento tenho a mesma sensação que eu tive quando a conheci e ela me falou quem eu era e eu tive vontade de socá-la achando que ela zombava de mim e agora eu tinha certeza que ela havia zombado.

- Com licença, pessoal. Volto já. Nós temos que conversar uma coisinha. - Sorrio como se não fosse nada, mas estava fervendo por dentro. É um dos aspectos da minha personalidade que não posso controlar, os impulsos e a vontade de explodir que vem de vez m quando.

Puxo ela pela mão, nenhum pouco delicada, quase arrastando ela para o lado de fora. Abro a porta e saio fechando quase com rudeza.

Quando finalmente nos vejo a sós, explodo.

- Íria, que porra que você não me disse? Que merda é essa de "só ficar com nobres"? O que eu sou dentro de toda essa porra? Por que você insistiu que eu viesse então?

Aguardo as explicações. Roxa de raiva.

*Ela segue, lágrimas rolando aos poucos de seus olhos, escutando a explosão de Aneles.*

-E-eu não sei... Eu não quero... São as regras, mas... Eu te amo.

Ela chorando me irrita mais.

- Para de chorar!! Que regras? Regras do quê?

Vejo que ela não vai me explicar nada se tiver chorando e balbuciando daquele jeito.

- Não precisa chorar. - Mudo o tom de voz para algo mais tranquilizador. - Eu só quero que você me explique. Tudo vai ficar bem. Também te amo, mas você tem que me dizer as coisas.

A puxo pra perto de mim, enquanto a abraço apertado. Se ela se acalmasse poderia me explicar o que estava acontecendo.

*De fato, aos poucos ela se acalma.*

-Então... Assim como durante a idade média dos mortais, é esperado que nobres se casem apenas com nobres. Eu devo me casar com outro Sidhe. Não poderei ser Feliz para Sempre contigo...

uhm. Então era isso?

- Bom, podemos dar um jeito, não podemos? Afinal você não pode ser obrigada a casar com ninguém e bom, nós não precisamos casar, podemos ficar juntas por tempo indeterminado, tipo pelo resto de nossas vidas? Sem compromisso formal nessa sociedade? Não tenho ideia, mas podemos pensar em algo e se for o caso, posso lutar você, literalmente. Isso é possível?

Tantas dúvidas, mas eu tenho certeza de que daria um jeito, a partir do momento em que tive certeza de que ela realmente gostava de mim.

*Ela volta a baixar os olhos em resignação.*
-Sim, eu posso ser obrigada a casar e, em breve, serei. Você pode não se casar, eu não. O máximo que eu poderia ter é uma amante, mas com constante risco, inclusive sobre a morte de tal amante...

Fico perplexa com o que ela diz.

- Quer dizer que, anos de evolução ou sei lá o que e nós ainda somos obrigados a viver sobre esse tipo de regra? Não vou deixar você se casar obrigada, nem que não seja para ficar comigo depois! Isso está errado Íria, muito errado e você sabe disso. Podemos fugir, podemos lutar? Alguém pode nos ajudar? Ou todo mundo aqui é um grnde mela cueca que faz as coisas mandadas?

*Após um momento longo de silêncio e assombro, Íria balança a cabeça negativamente.*

-Essas são as Redevances, esse é meu Dán. Não são mutáveis. É o costume do nosso povo. Não está errado, não pode estar, você não entende?

O que ela fala parece mandarim nos meus ouvidos. Eu realmente precio aprender muito sobre tradição.

- Costumes podem ser mudados, não? Parece errado... Soa errado se casar sem amor, a história humana ta aí pra esfregar na nossa cara? Não é por que sei lá quem escreveu, cuspiu encima que a gente aceita cego. Se ainda fosse de um jeito feliz, mas nem é. A não ser que você queira e você não parece querer. Não tem ninguém que entenda de toda essa coisa que possa nos aconselhar? Eu não quero desistir da gente. a não ser que você queira. Eu só preciso da sua resposta, pra seguir em frente ou ficar, pois não tem nenhum sentido eu vir para cá se for pra ficar sem a nossa relação. Eu estava muito bem onde eu estava, sozinha, ignorando toda essa merda que a gente é.
Eu estava muito bem ignorando essa realidade...

Essa parte era mentira. ignorar não era bom. Saber a verdade foi esclarecedor. Saber que eu não era louca ou esquizofrênica. Mas isso de obrigações, blablabla seguir sei lá o que de regras não combina nem um pouco com o que eu imaginava. Meu problema era a indecisão da Iria, se ela quisesse mesmo, daríamos um jeito. Se não, que ela me deixase ir. Melhor um coração partido agora, do que depois.

- Ok, sobre o seu futuro você que sabe... E foi você que começou o drama. Na verdade foi eu... Tanto faz! Então pelo visto por enquanto fica tudo desse jeito.. Mas por favor, no futuro, me fale as coisas antes dos outros. Não quero ficar sabendo de nada pelo que outros disserem. Quer voltar lá pra dentro? Acho que nos resolvemos aqui.

Deixo transparecer que está tudo bem, apesar de eu não achar que esteja. Não gosto do modo como ela leva nossa relação às vezes. Sei que tenho ciumes e sou intransigente, só nunca imaginei esse tipo de obstáculos.

Me aproximo dela e a abraço. Depois a beijo carinhosamente.

- Então, o que me diz vossa nobreza?

*Ela parece aliviada e responde ao beijo com delicadeza e graça.*

-Podemos voltar para dentro, então.

Sigo com ela para dentro do local de novo.

*De volta ao ambiente, Augustofane quem recomeça a conversar.*

-Mas então, Anie... Você já sabe se é Seelie ou Unseelie?

Isso eu sabia mais ou menos o que era. E creio que eu sou seelie. Mas e eles? Seria ruim dizer? Perguntar essas coisas era ofensivo? Sim, eu precisava mesmo entender todos os protocolos.

- Não sei, como a gente descobre isso? E vocês são o quê? Descobri o que eu era um sátiro a pouco tempo e ainda estou me adaptando.

Olho meio de rabo de olho para eles, procurando ver suas reações.

-Bem, é questão de saber se você é a favor da estagnação, ou da mudança; se você abraça o antigo, ou se anseia pelo novo; se quer a tradição, ou...

*Ela é, então, cortada por Mayene.*

-Como você já notou, a Auggie é Unseelie. Seelie é, mais que preservar as tradições, preservar o Sonhar e os Sonhadores. É aceitar com honra nosso papel de guardiães do Sonhar.